quarta-feira, 15 de julho de 2009


Pessoal: este texto eu fiz, depois de ler o livro Cultura Popular e Educação, oferecido pelo MEC. Li e achei muito bom, como sou supervisora em um dos turnos, montei este texto baseada nas idéias que tirei do livro, usei este artigo como suporte para reflexão quando construimos nossos Planos de Estudos. Espero que gostem, penso que ele tem tudo a ver com nossa caminhada. Bj

CULTURA POPULAR E EDUCAÇÃO

Cultura popular e educação podem adquirir significados muito diferentes, dependendo do contexto ou da sociedade a partir da qual forem pensadas. Cultura popular significa,o cultivo dos elementos, significados e valores comuns ao povo, essencialmente diferentes dos meus – sofisticados, elaborados, superiores – lembrando que são eles também diferentes de mim, se vestem e falam de outro modo, habitam outros lugares.
No Brasil a idéia de cultura remete para um conjunto de bens materiais ou imateriais possível de ser apropriado e elaborado por uma minoria, uma elite endinheirada.
Decorre disso de que a escola (a educação) no nosso Brasil continua sendo um lugar de exclusão. O acesso aos bens e equipamentos culturais de qualidade ainda é extremamente restrito. Livros, computadores, museus são em grande medida marcadores de lugares sociais específicos entre nós, apesar das políticas públicas voltadas para democratizar o acesso aos chamados “bens culturais”.
A relação entre cultura popular e poder no Brasil, portanto, passa primeiro pela região, depois pelo Estado, pelos municípios. Essa mesma cultura desigual de poder se reproduz na escola, em sala de aula, muitas vezes de formas e maneiras inconscientes, tanto do ponto de vista do educando como do educador.
Enfim, é preciso recusar a hierarquização das expressões culturais e sua articulação em culturas subalternas e culturas dominantes. É necessária uma outra visão do processo cultural como um todo, mas também da educação e da escola. Partindo deste novo olhar, é possível pensar um outro país, uma ou várias alternativas de uma outra sociedade. Isto porque a cultura brasileira é um estoque inesgotável de conhecimentos, sabedorias, tecnologias, maneiras de fazer, pensar e ver nossas relações sociais e, nessa exata medida, um lugar em que mais do que simplesmente criticar o modelo genocida e autodestrutivo de desenvolvimento, é possível resistir a ele com outras propostas de sentido do viver e de humanidade.
Só depois de nos despir dos entulhos de mais de 500 anos de vigência de noções hierárquicas será menos absurdo pensar também a possibilidade de uma outra escola, de uma outra maneira de ensinar e, sobretudo de ensinar outras coisas.
Cada ser humano é um eixo de interações de ensinar-aprender. Assim, qualquer que seja, cada pessoa é em si mesma uma fonte original de saber e de sensibilidade. Em cada momento de nossas vidas estamos sempre ensinando algo a quem nos ensina e estamos aprendendo alguma coisa junto a quem ensinamos algo.
A educação que tanto revê os seus currículos ganharia muito em qualidade se fosse capaz de realizar algo mais do que uma simples revisão. Se ela ousasse reencontrar um sentido menos utilitário e mais humanamente integrado e interativo em sua missão de educar pessoas. Um dos passos nesta direção seria o de reintegrar e fazer interagirem as diferentes criações culturais do espírito humano, com um mesmo valor. Ensinar a pensar e sensibilizar o pensamento entretecendo a Matemática e a Música, a gramática e a poesia, a filosofia e a física.
A primeira vez que a criança vai à escola, ou seja, a passagem do ambiente familiar para o ambiente escolar, provoca certo trauma. Há, no entanto, uma diferença bastante acentuada entre a criança orientada de uma família escolarizada e letrada e a criança que vem do meio ambiente de pouca ou nenhuma instrução. É importante que não se perca de vista a influência de fatores extra-classe. O cultural, ou seja, ela é, até certo ponto, resultado do meio ambiente em que nasceu e é educado. Desta maneira, principalmente a escola pública, em muitos casos, há um “processo de ruptura” entre o ambiente escolar e familiar. São mundos diferentes. O mundo dos alunos é outro. Estes, em geral, têm sua origem num ambiente onde a única coisa que vale é a luta pela sobrevivência, com todas as conseqüências e implicações, inclusive indisciplina e violência.
Uma das maiores dificuldades que nós professores encontramos, quando os alunos ingressam, pela primeira vez, na escola pública, está justamente na sua origem. Esta provoca uma ruptura brusca entre o ambiente familiar e o escolar.
Além de ser um mundo estranho para os alunos, as professoras também não percebem que o que lhes ensinam, seja pelo método A ou método B, camufla todo este contexto sociocultural, isto é, a realidade concreta, vivenciada no dia-a-dia dos alfabetizadores.
Este mundo tem pouco a ver com o mundo dos alunos. Como pode lhes interessar? Quais as conseqüências? Muitas crianças não conseguem acompanhar o ritmo do ensino/aprendizagem. Sentem-se “um peixe fora d’água”, e os resultados, para muitos, são a repetência e a evasão.
Para superar este patamar, é necessário mudar a cultura escolar. Isto implica um renovado corpo teórico/prático que incorpore as dimensões sociais , econômicas, culturais, cognitivas e afetivas dos educando, afim de que o professorado possa compreender o mundo real em que elas vivem e a maneira como o expressam em suas falas.
Outro fator muito esquecido e negligenciado é a questão das classes numerosas. O que se observa, na maioria das escolas, são turmas numerosas, mal acomodadas e apertadas. Podemos imaginar como a criança iniciante se sente perdida no meio de tantas crianças que lhes são desconhecidas. Aliás, nesta situação, o constrangimento é duplo, pois há educadores, por melhor que sejam, que tenha condições para dar uma boa aula, principalmente em se tratando de alfabetização. O fracasso escolar, repetência e evasão são a conseqüência lógica e não há como culpar a professora, que também é vitima da situação.Vale a pena lembrar, das palavras do professor Itan Pereira:
”Não adianta um remendo aqui e acolá, precisamos de uma mudança radical.”

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